NAVEGUE PELA COBERTURA EDUCOMUNICATIVA REALIZADA POR 100 ADOLESCENTES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO


15 de maio de 2008

cienciaemdia@uol.com.br - Jornalista Marcelo Leite



MARCELO LEITE é jornalista, colunista da Folha de S.Paulo e autor do livro "Promessas do Genoma" (Editora da Unesp)




ECOLOGIAS

Economia globalmente aquecida
Parece mesmo que o establishment econômico (não o economicista, veja bem) acordou para a mudança climática e o aquecimento global. Hoje foi divulgado no Reino Unido um relatório de revisão juntando os dois assuntos, A Economia da Mudança Climática, feito por Nicholas Stern a pedido do governo britânico.
Quem? Pois é, muitos de nós nunca terão ouvido falar do cara. Mas ele foi economista-chefe do Banco Mundial, o que não é pouca credencial (mas tampouco o transforma em sumidade). Agora, veja o que dizem de sua revisão alguns Nobel de Economia (em tradução apressada):

"Se o mundo está esperando uma abordagem calma, razoável e cuidadosamente argumentada sobre a mudança climática, Nick Stern e sua equipe a produziram. Eles delineiam uma política de adaptação factível, a custo tolerável, começando agora. Mais cedo é bem melhor."
Robert M. Solow
Nobel 1987

"As perspectivas severas de mudança climática e seus crescentes custos econômicos e humanos são claramente evidenciados nesta investigação inquiridora. Particularmente surpreendente é a identificação de meios e modos de reduzir drasticamente essas penalidades por meio da ação imediata, e não na espera de que nossas vidas sejam atropeladas por adversidades de progrssão rápida. O mundo seria tolo de negligenciar essa forte porém estritamente oportuna mensagem prática."
Amartya Sen
Nobel 1998

"A Revisão Stern da Economia da Mudança Climática oferece a mais cabal e rigorosa análise até hoje dos custos e riscos da mudança climática, e dos custos e riscos de reduzir emissões. Ela deixa claro que a questão não é se podemos nos permitir agir, mas se podemos nos permitir não agir. Por certo há incertezas, mas o que ela deixa claro é que as incertezas desvantajosas - agravadas pela dinâmica complexa de longas permanências, interações complexas e fortes não-linearidades - compõem um forte argumento pela ação. E oferece uma agenda abrangente - que é econômica e politicamente factível - em torno da qual o mundo inteiro pode unir-se para enfrentar a mais importante ameaça ao nosso futuro bem-estar."
Joseph Stiglitz
Nobel 2001

ECOLOGIAS
O planeta subiu no telhado


No ano 2000, participei da edição de uma série de cadernos especiais da Folha sobre o Futuro, um deles enfocando água, energia e comida. Leonardo Cruz, hoje na Ilustrada, foi incumbido de uma tarefa ingrata: arranjar um jeito de fazer as contas sobre quantos planetas seriam necessários para que todos os habitantes da Terra tivessem o nível de vida dos países ricos - ou seja, consumir água, energia e comida com a mesma voracidade dos pesos pesados norte-americanos.
Santa ingenuidade. A conta certa não precisa ser distributiva, nem sonhar com um reino sem necessidades. O planeta Terra, aparentemente, entrou no saldo a descoberto já com a população de 6,5 bilhões de hoje, mesmo, com aí 1/4 ou 1/3 de gente MUITO pobre. O cálculo foi feito pela WWF e resumido no Índice Pegada Ecológica (que soa muito melhor em inglês, não me perguntem por quê: Ecological Footprint).

Como explicou Cristina Amorim no Estadão, trata-se de uma metáfora para a superfície de planeta necessária para sustentar cada pessoa viva. Para a ONG, estamos torrando 25% mais recursos e transformando-os em dejetos do que o sistema Terra é capaz de reconverter em recursos.
Confira na publicação Living Planet Report 2006. Diz o relatório:


A humanidade não está mais vivendo dos rendimentos da natureza, mas dilapidando seu capital. Essa pressão crescente sobre ecossistemas causa a destruição ou degradação de hábitats e a perda permanente de produtividade, o que ameaça tanto a biodiversidade quanto o bem-estar humano.

O WWF também publica regularmente um Índice Planeta Vivo, expressão numérica do acompanhamento sistemático da saúde de populações de 1.313 espécies de vertebrados (peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos), encarados como sensores de qualidade ambiental. Se a saúde delas vai mal, é porque a biosfera mesmo não estaria se sentindo muito bem. Ora, o índice decresceu 30% desde 1970. É inacreditável que não haja mais gente à beira de um ataque de nervos com isso.

Se você quiser ler um comentário economicamente sensato e nada "ecochato" (os inventores da boutade ainda vão se arrepender dela), experimente "Biodiversidade em baixa", de José Eli da Veiga, no Estadão. Se quiser presenciar um ataque de nervos em formato editorial, vá direto para a entrevista de James Lovelock à revista Veja (aviso, porém, que ambos os sites exigem senha de assinante).

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